viernes, 26 de noviembre de 2010

manual de usuário: Senna

ler escutando "Low Light", de Pearl Jam



Logo depois do filme, corrí apresado pro banheiro do shoppping, a tirar uma água do joelho, se é que me entendem. Afinal de contas, faltavam mais de 4 horas antes do vôo, e já tinha visitado a loja Apple e a Saraiva mais de um milhão de vezes. podia demorar quanto quisesse, sería até melhor...

Confesso que assití o filme taquicárdico. O coração acelerava sem motivo cada vez mais, despertando a velha e ignorante paranóia. Na escuridão gelada da sala, demasiado grande pra os tempos atuais, mais absolutamente contemporânea, ví o jornal da minha infância muito granulado, muito contrastado e por demais saturado; mais sutilmente editado: as minhas mais antediluvianas lebranças cruzavam-se com um jovem Senna, ainda parecido com o meu pai, desfilando em algúm evento anónimo de Karting.

Que ótimo ver o filme desde o córtex de um indiano: um país que tem tanto a ver com o Brasil, mais que fica ao outro lado da terra. Um outro país na periferia do mundo, mais também perdidamente apaixonado pelo circo de gasolina e aramis que todos amamos. O homem confesou não saber nada de F1, e isto fez a aventura ainda mais interesante. Claro que com essa informação cheguei com todo-o-espírito-de-porco possível, procurando desenmascarar o profano, e olha só! acabei saindo pro banheiro fan do diretor porque:

  1. Não é um filme sobre F1, muito menos sobre as corridas dos oitenta. ainda muito menos pra chiitas fanáticos internetmaniacos como a gente.
  2. Tampouco é um documental histórico, mesmo que seja feito na íntegra numa colagem de audios e vídeos que parecem ter vindo do You-tube; como se fosse obra de Antti Kahola.
  3. É muito bom que foi assim, pois o cara se concentrou em contar a história da construção de um ídolo: Senna, e das virtudes e os defeitos que o fizeram irresistível
  4. É um filme construido pra poder ser asistido pelo rapaz que simplesmente sabe quem era senna, em linhas gerais, e que viveu e morreu correndo.
  5. Nessa construção, mesmo que parcial; não exagerou (nem na volta com a bandeira!), não dramatizou (precisava?) e não mostrou tudo explodindo como diretor americano 
  6. Porque se tivesse sido estadounidense, até as chaves de fenda teríam explodido ao cair no chão

Mesmo assim, faltam algumas coisas que teriam sido bacanas: faltaria pegar um pouquinho declarações de Berger, e mais de Piquet!!! o doido de Piquet era a comparação obrigatória do jovem Ayrton, e o filme nem faz muita menção ao tricampeão na chegada de Senna à F1. Outra coisa que não têm o suficiente é a figura de Max Mosley se apoiando na guerra de Balestre contra Senna para se eleger presidente da FIA. Um detalhe muito legal (e sutil) é como as figuras ditas contemporâneas vão aparecendo pouco a pouco, antes da parte do ímola 94. podemos ver a chegada de Rubens ao paddock (me pregunto o qué sentiu barrica ao se ver no filme...), de Schumacher, e ainda de Coulthard. O filme também faz um rápido retrato do "filho caçula do Maligno", Jean-Marie-Balestre, que só por isso já é um motivo pra ir ao cinema (best opinion is MY opinion! lembraram?)

Ecosistema político aparte, o que o diretor quis fazer é explicar a dimensão psicológica, e humana, e esportiva, e moral, e mediática e também psicótica de um "da silva" que vai te conquistar desde a primeira cena, tudo ao mesmo tempo. Perdí a noção de realidade, abrí os olhos e a boca, e toda aquela wikipedia mental de dados, declarações e anécdotas foi pro ralo: eu era um moleque conhecendo de novo a aquele que forjaría a minha imagem mental do Brasil dos oitenta. E alí vão de novo Xuxa, Rio de janeiro, F1, carnaval...

O diretor faz muito bem em chegar e definir o ponto em que começaría o fatídico fim de semana del GP de San Marino. Já desde antes, vai construindo a paternal Relação que Ayrton tenía com o Dr. Syd Watkins. Acho que as cenas do piloto reunido com o dotor comentando os accidentes de Barrichello e Ratzemberg são o ponto culminante do filme, especialmente porque os assistentes estão por adelantado de luto sabendo que estão vendo um cadáver caminhando de entre os vivos. nada de atitudes de despedida, nada de proféticas coincidências: as últimas horas da lenda são as de um gladiador atencioso, uma celebridade cualquer, tentando administrar o tempo e sua cabeça nervosa por ter visto a Roland ser llevado sem vida numa maca. as imagens do accidente são Tão crúas quanto posso recordar do día em que perdí a inocencia ao ver meu ídolo de infância convertido em um fiapo, uma vítima das massas sedentas de emoção e das transnacionais sedentas de dinheiro. O meu coração se partiu de novo como naquele sábado a noite (perdí os treinos) em que ví o corpo indefenso do símbolo absoluto de velocidade que a minha Tv tinha me ensinado. voltei a ser um moleque solitário, triste, sem Tv e com ambos pais trabalhando. Senna estava morto.

Logo depois do filme, corrí apresado pro banheiro do shoppping, a tirar uma água do joelho, se é que me entendem. Entrei na sala asséptica e impersonal, me deparando com o Brasil de 2010, e tive que segurar pra não chorar enquanto mijava num Banheiro público. Afinal de contas, faltavam mais de 4 horas pro vôo, e tería que voltar pra livraria Saraiva pra pensar em outra coisa que não fosse Senna.

Low Light
Pearl Jam


Clouds roll by 

Reeling is what they say

Or is it just my way? 

Wind blows by, low light 

Side-tracked, low light 

Can't see my tracks, your scent-way back 



Can I be here all alone? 

Clear a path to my home 

Blood runs dry 

Books bible & jealousy tell me wrong 

I WILL feel is calm

Voice blows by, 
low light, Car crash, low light 

Can't wear my mask, your first, my last 

don't need to wear, my mask, at last



Voice goes by 

Two birds syd's face is what they'll see

Getting lost upon their way 

WIND ROLLS by, low light 

Eye sight, low light 

I need the light 

I'll find my way from wrong, what's real? 

The dream I see

10 comentarios:

  1. Não tem que dizer. Falar de Ayrton, como disse um reproter, é muito clichê. Obrigado, Senna.

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  2. Grande retorno, um texto muito bom, sobre um filme nem tanto. Mas as lembranças é que são importantes.

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  3. Primeiro de tudo: welcome back, once again!

    Segundo: não posso comentar sobre o filme do Senna porque ele ainda não estreou aqui em Portugal. Aliás, eu sei que as estreias no Japão e Brasil eram apenas um teste para saber como é que as pessoas desses países iriam reagir ao documentário, pois eram os paises que mais seguiram o Senna.

    Mas sei que a critica é quase unânime: o filme e bem feito. Portanto, as minhas expectativas sobre ele, quando se estrear por aqui, (tem todo o interesse nisso) são altas.

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  4. Tiago: é verdade, mais um motivo pelo qual gostei de ver o filme tentar (tentaaar)fugir dos padrões normais de documental

    Ron: valeu cara, enquanto o tempo e o vivo zap permitir, continuarei escrevendo

    Speeder: thanks man! tenha paciencia, só espero que o filminho chegue a estreiar em outros países. fora de Brasil e Japão está fazendo demasiado pouco ruido, tomara e não fique em eventos isolados

    e o melhor é entrar na sala sem nenhuma espectativa mesmo, a se divertir e curtir uma história galopante

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  5. belo texto camarada. Realment eoum belo texto, e o filme é bom, na medida do possível. Faltaram algumas coisas, mas teve que se fazer desse jeito,né?

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  6. valeu marcão vc sempre me dando ánimos

    o bom não é o filme, que apesar de star bem feito não tem nenhuma novidade. o fantástico é a experiência de ver o filme.

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  7. Xará,

    Ainda não tive tempo de assistir, mas dessa semana não passa.


    abs

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  8. Luis, eres ya un lusoparlante, se te ha olvidado escribir en español.

    De tu texto en español he sacado casi más palabras en portugués que en español jajajajajajaja

    De hecho, en estas 4 líneas, ya se me escapaba alguna palabra en el mal portugués que escribía yo hace unos años ;)

    Grande Luis, no faltes nunca.

    Un abrazo

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  9. Marcelonso: viu que jacaré nenhum pode comigo? kkkkk

    vai, mais SEM ESPECTATIVAS CDF. vai curtir o filme, que não é lição de história

    MArtín: pues sí, y este texto fué escrito inicialmente en portugués y traduzido a mano. pero ando preocupado con como estoy perdiendo especialmente el vocabulario.

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  10. ¡¡Que ganas tengo de que llegue a Espaaaaaña!!

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